quinta-feira, 5 de junho de 2008

JORNAL NACIONAL DO AMOR

Não sei se vcs se lembram, mas no meu último post citei esse artigo e agora achei na internet e resolvi compartilhar, muito bom...

Antes que eu esqueça obrigada meninas pelos comentários, como diria a Guria: "Me emocionei" ...

beijos e boa Leitura...

JORNAL NACIONAL DO AMOR Xico Sá

Ali nas primeiras horas da noite bate aquela necessidade física inadiável de contar como foi o dia. Contar e ao mesmo tempo receber notícias tuas. Seja um épico, um feito memorável, seja uma coisa à toa, um carro na poça que quase te molha todinha, um chato que te pegou para Cristo, um chefe maluco, os comentários sobre o tempo, ainda bem que choveu, meu bem, a noite está ótima para tomar um vinho, para dizer aquelas coisas que não se dizem para qualquer uma. Sobe a vinheta, sonoplastia, é o Jornal Nacional do Amor que começa agora, um dos momentos nobres de ter alguém na vida, conta lá que eu conto cá, e haja narrativas.
Ter alguém para contar teu dia é melhor que sexo, melhor que férias, melhor que pizza aos domingos, melhor que lamber os beiços com petit-gateau na sobremesa, melhor que doce de leite, melhor que tudo na vida, é tão bom quanto peru de Natal e champanhe de réveillon, tão nobre como brinde nos primeiros jantares fora com aquela nossa nova promessa de felicidade. Contar para um amigo é diferente, contar para um irmão é outra história, contar para a vizinha é roubada, contar só serve, amiga, se for à boquinha da noite, e se for para a mulher que habita, sem pagar prestações, sem aluguel ou fi ança, a Cohab ou o condomínio de luxo das nossas existências. O Jornal Nacional do Amor não tem mentiras de graça, somente mentiras sinceras, aquelas que melhoram as coisas, que levantam a bola, que restauram a lua-de-mel no auge, aquela lua-de-mel na praia, a rede na varanda, a boa safadeza depois de muito sol quente, o jantar repleto DO AMOR de beijos, aquele céu de Bilac, ora direis, aquela cachaça, sustança, e os lençóis de cambraia bordados, letras barrocas, “até que a morte vos separem”. Na alegria ou na tristeza, contar o dia é a melhor das artes de estar juntos. Do amor e suas leseiras incríveis, suas breguices, porque todo amor é brega, assim como todas as cartas amorosas são ridículas; só os cults e metidos não amam, não aprenderam nem mesmo com os brutos de Shane e de outros belos faroestes. Do amor, seu Sthendal, nós nunca enchemos a barriga. Uma fome de viver sem fi m, um apetite devorador de todas as calorias; sem medo de gordurinhas ou outras possíveis frescuras. “Ai, amor, estou tão cansada, meio enjoada, acho que vou menstruar”, ela diz, bem linda, ainda na rua. “Você me agüenta mesmo assim?”, ela completa. No que o homem responde com um lindo plágio da Legião Urbana do Renato Russo: “Você me conta como foi seu dia/ E a gente diz um p’ro outro:/ – Estou com sono, vamos dormir!” Contar sempre, porque até nossos silêncios dentro de casa deixam ecos que viram legendas para sonhos coloridos e manhãs cheias de amor e pés sobre pés debaixo da mesa. Vamos gastar com decência e devoção o amor no auge, porque depois é depois e na vida tudo passa.